sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Livro de Mato Grosso ganha prêmio nacional

Livro de Mato Grosso ganha prêmio nacional
Obra sobre habitações indígenas conquista Museu da Casa Brasileira

Ganhar um prêmio é sempre bom, mas tem um gosto especial quando a distinção acontece além das divisas do Estado onde o trabalho foi produzido. Foi o que aconteceu com o livro “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação”, do arquiteto José Afonso Botura Portocarrero. Lançado há um ano pela Entrelinhas Editora, com apoio do Sebrae-MT, a obra foi contemplada com o 25º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, considerado o mais importante do setor. A cerimônia de premiação, realizada em São Paulo, na noite da última terça-feira, foi presidida pela diretora geral do MCB, Mirian Lerner, pelo secretário de Estado de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, e pelo diretor da agência DPZ, publicitário Roberto Duailibi, que foi o criador do Prêmio Design há 25 anos, quando era o diretor geral do museu.
“Estou muito contente com essa premiação, reconhecida como a mais séria e respeitada da arquitetura no Brasil. É especialmente significativo ganhar esse prêmio do Museu da Casa Brasileira pelo fato de estarmos fora do circuito Rio-São Paulo”, comentou o autor, chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que viajou à capital paulista para participar da cerimônia de premiação. O autor e a Entrelinhas Editora foram premiados com o segundo lugar na categoria “trabalhos escritos publicados”. Segundo a comissão julgadora, o “livro apresenta ampla e excelente análise de objeto pouco estudado, desenvolvendo reflexões comparativas sobre as estruturas das habitações indígenas da região de Mato Grosso. Sua contribuição é fundamental para o conhecimento e principalmente para possíveis reflexões e direcionamentos em pesquisas futuras”.
Apaixonado pelo estudo das tecnologias indígenas, Portocarrero vem se dedicando ao tema como pesquisador desde o mestrado e estendeu suas pesquisas a 10 povos de Mato Grosso no doutorado, realizado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ele acredita que o prêmio contribui para divulgar a importância de se pesquisar a contribuição dos indígenas para a arquitetura, a valorizá-la e preservar essa memória. “Essas tecnologias estão longe de estarem ultrapassadas e o prêmio vai fazer com que mais estudantes de arquitetura se interessem pelo assunto”, comenta o escritor, que espera que sua obra seja adotada em outros cursos de Arquitetura e Urbanismo do País.
A partir das referências do desenho cultural das casas indígenas, o arquiteto desenvolveu alguns projetos na perspectiva da etnoarquitetura, entre eles, o Espaço do Conhecimento do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso (Sebrae-MT), em Cuiabá. Para o superintendente do Sebrae-MT, José Guilherme Barbosa Ribeiro, é “uma honra” trabalhar com Portocarrero, “uma pessoa que sabe transformar a teoria na prática”. Ele também ficou muito feliz com o Prêmio do MCB que, na sua opinião, veio naturalmente como conseqüência de “uma configuração de esforços e competências”. “Quando instituições, empresas e pessoas trabalhem em conjunto em prol do bem, o reconhecimento acaba acontecendo”, comenta. Na opinião da editora Maria Teresa Carrión Carracedo, o prêmio é “um reconhecimento de que a sociedade brasileira tem muito o que aprender sobre design e sustentabilidade, além de outras áreas de conhecimento, com os povos que há milênios vivem neste território.”
“As pesquisas de Portocarrero e da Tecnoíndia trazem esta importante contribuição à cultura nacional. Estamos felizes por termos divulgado este trabalho em parceria com o Sebrae-MT”, acrescenta.  A propósito, a premiação de “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação” coincide com a realização da segunda Feira do Livro Indígena (Flimt), no Pavilhão das Artes, e, no final da tarde desta quinta-feira, o autor estará presente ao evento, juntamente com a antropóloga Maria Fátima Roberto Machado. Durante a feira estarão expostas maquetes de habitações indígenas feitas por Portocarrero.

Sobre a obra – “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação” trata do desenho das habitações tradicionais de 10 povos e seus aspectos construtivos. Fartamente ilustrada com fotos e desenhos, a obra, na avaliação do arquiteto Carlos Zibel Costa (FAU-USP), orientador de José Afonso Botura Portocarrero, “nos abre em toda sua originalidade e dignidade, mas também em toda sua restrição e especificidade tecnológica e socioeconômica a Arquitetura Indígena Brasileira de cada etnia estudada”.
“Ora, é justamente esse processo que a retira do limbo empoeirado das citações históricas e dos preconceitos, convidando-as a adentrar o universo das culturas locais e das civilizações dominantes no mundo globalizado e vivo da época presente”, afirma o orientador no prefácio do livro.
No texto da apresentação, a professora doutora Maria Fátima Roberto Machado, do Departamento de Antropologia/Museu Rondon – UFMT e coordenadora do Núcleo Tecnoíndia, elogia a postura etnográfica de Portocarrero no levantamento dos desenhos das casas indígenas e o valor do material levantado por seu ineditismo.
“(...) Talvez uma das mais importantes contribuições de um intelectual comprometido com o mundo em que vive seja colocar a sua energia criadora à disposição do entendimento entre as pessoas, considerando as mais diferentes culturas e as mais diferentes condições materiais de existência”, diz Maria Fátima, numa referência ao desafio enfrentado pelo autor em suas pesquisas.
Portocarrero acredita que a premiação vai ajudar divulgar o blog do Núcleo de Estudos e Pesquisas Tecnologias Indígenas (www.nucleotecnoindia.com), do qual é um criadores. 
José Afonso Botura Portocarrero - imagem Rodrigo Lorenzon
Sobre o autor – José Afonso Botura Portocarrero nasceu em Bela Vista (hoje Mato Grosso do Sul), na fronteira com o Paraguai, e se formou como arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (SP). Iniciou a carreira docente no Departamento de Engenharia Civil da UFMT e participou da criação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo dessa universidade. Em 2001, apresentou dissertação sobre a casa Bororo no mestrado em História da UFMT e, cinco anos depois, teve sua tese de doutorado aprovada na FAU-USP, tendo como orientador o arquiteto Prof. Dr. Carlos Roberto Zibel Costa.
Como arquiteto, Portocarrero projetou a sede da Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat), conhecida como a “oca”, e também elaborou o projeto do Memorial Rondon (em parceria com o arquiteto Paulo César Molina Monteiro), que começou a ser construído na borda do Pantanal, em Mimoso, distrito de Santo Antônio de Leverger, durante o segundo governo Dante de Oliveira.

Sobre o prêmio – O Prêmio Design MCB foi criado em 1986, pelo publicitário Roberto Duailibi, então à frente do Museu da Casa Brasileira, para incentivar o design em nosso país, numa época em pouca gente sabia o que era isso ou dava importância a esta atividade. Ao longo dos últimos 25 anos, o prêmio cresceu em credibilidade graças a seu caráter cultural, sem interesses comerciais, garantido pela característica da instituição que o promove – um museu dedicado ao design e à arquitetura, vinculado à Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo.
Em 2011, houve recorde de inscrições: 810 em produtos e trabalhos teóricos, nas seguintes categorias: Equipamentos de construção, de transporte, e eletroeletrônicos, Iluminação, Mobiliário, Têxteis, Utensílios, Trabalhos escritos publicados e não publicados. Ao todo, foram premiados 33 trabalhos e os vencedores foram contemplados com inscrição gratuita no iF Product  Design Award 2013, ação realizada em parceria com o Centro Design Paraná. Para celebrar os 25 anos do Prêmio Design foram lançados durante a cerimônia de premiação um site especial e o livro “21-25º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira”, que reúne os projetos finalistas e premiados nessas cinco edições. Também foi inaugurada uma instalação interativa que disponibiliza ao público grande parte da memória do Prêmio, cuja história se mistura à do próprio design brasileiro. Os trabalhos finalistas e premiados ficarão expostos no MCB até o dia 15 de janeiro.

Fonte: Martha Baptista

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