imagem: blog Democracia e Socialismo |
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a 'Canção do Exílio'.
Como era mesmo a 'Canção do Exílio'?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!"
(Carlos Drummond de Andrade
Europa, França e Bahia
Alguma Poesia, 1930)
A sedução pelo lamento do poeta, ao deter-se no verso "Meus olhos brasileiros sonhando exotismos”, do mesmo poema a que alude a epígrafe, obriga o pensamento a pousar no árido terreno da discussão sobre nossa tão maltratada cultura. E o verso "Eu tão esquecido de minha terra..." ficou ressoando, eterno, impiedoso, solene, na memória até constituir-se em um manifesto de coragem na fala que, decerto, destoaria; "tão esquecido de minha terra?". Algo parecia ressoar que não deveria ser assim...
Entretanto, foi preciso enxergar uma situação que, da mesma forma, era angustiante: também não lembrávamos a "Canção do Exílio" e, na extensão, não ouvimos falar de Antônio Nóbrega, nada sabemos do Boi-Bumbá, Câmara Cascudo é um nome que nos diz muito pouco e nossos ouvidos refinados não permitem a realização de uma embolada nordestina. Ficamos esquecidos de nossa terra!
A observação de uma realidade circundante permitia uma dimensão maior do problema: vivemos uma fase que comemoramos o Halloween, mas não sabemos nos aproximar dos festejos do interior do Brasil. Nossa cultura perdeu-se em deslumbramento de outros contextos, que alguém tratou de julgar para nós como sendo a melhor referência. Vivemos o que pode ser chamado de submissão cultural.
Forte? Não, não tanto. Vejamos: quantas e quantas vezes fomos impelidos a desprezar um valor cultural nacional em favorecimento a uma atitude de deslumbre frente a uma variável de exotismo estrangeiro? Somos, na melhor das hipóteses, patriotas de ocasião. Sabe aquele que chora quando o hino nacional é tocado ao anteceder dos jogos de Copa do Mundo ou em Olimpíadas? Nesse momento, sentimo-nos brasileiros. E enfeitamos as ruas de bandeiras verdes e amarelas, e vestimos camisas verde-amarelas, e lavamos a nossa alma de patriotismo, e até sabemos a letra do hino de cor... Mas, quando tudo se acaba e temos que voltar à nossa vidinha rotineira, esquecemos a "Canção do Exílio"... Ou, ainda, deixamos as virtudes se negarem na "hora em que os bares se fecham", como nos alertava o poeta.
Esse modelo de submissão cultural a que nos limitamos cerceou-nos, sobretudo, a visão de país que deveríamos ter. A verdade é que não conhecemos o Brasil; não conhecer no sentido do desrespeito às tradições culturais do nosso povo. Esse desrespeito, via de regra, é fruto da não aceitação de uma variável diversa àquela que a mídia propaga. Ou poderia ser dito diversa àquela proferida pelo dominador, como pudemos observar nos textos dos cronistas do descobrimento, que versam, em boa parte, sobre a questão do desrespeito às tradições culturais e intelectuais de um povo - basta lembrar a visão do índio como destituído de saber, de tradição e de cultura, a reforçar a discriminação dos valores do povo conquistado, nas inúmeras cartas e nos relatos da época do descobrimento. É nessa mão que estamos: aceitamos ser um povo que não valoriza sua cultura, simplesmente porque não a conhecemos ou, o que é pior, rejeitamo-la sem ao menos nos dar o trabalho de experimentá-la e, daí, fazer um juízo de valor.
Aceitamos simplesmente. Não brigamos, não exigimos, não fazemos nada... E há tanto o que fazer. O mesmo Drummond nos arrebata em outro de seus versos: "Um grito pula no ar como foguete”, e parece-nos que essa é a medida da nossa atitude: precisamos gritar! Talvez um grito sutil que se inflame a partir desse texto e provoque algumas pessoas a pensarem a conscientização de nossa cultura. Que essa provocação mostre que cada cidadão tem uma parcela de responsabilidade nessa contribuição a nos apontar a prioridade de resgatar e de revalorizar a cultura do nosso país. O prazer, a honra e a satisfação de amor à pátria devem ser bandeiras, não de um discurso panfletário, mas de um compromisso levado ao extremo, quase como a propor, como também o dissera Drummond, uma releitura do hino nacional: "Precisamos descobrir o Brasil! / Escondido atrás das florestas, / com a água dos rios no meio, / O Brasil está dormindo, coitado. / Precisamos colonizar o Brasil.". E esquecer de vez essa tendência abominável de depreciação aos nossos valores.
É preciso fazer das nossas considerações a necessidade maior de manter sempre vivos os nossos lamentos, não tristes - mas carregados de seriedade e de esperança em acender desejos de que o conceito de identidade cívica seja examinado com olhos de admiração e respeito.
"Sabemos que o Blog Fuzuê das Artes faz nesse espaço talvez um grito sutil, mas acreditamos que estamos no caminho certo, que podemos a cada dia e em cada publicação, provocar o despertar da consciência coletiva sobre a importância da nossa cultura, pois acreditamos que o resgate da cultura de uma região poderá despertar no individuo a motivação e o interesse sobre sua própria cultura, tornando-o um cidadão mais sensível e consciente da importância de suas raízes para preservação de sua história."(Rosylene Pinto)
Estamos fazendo a nossa parte, é você meu amigo?
Parabéns querida amiga!
ResponderExcluirObrigada Mirian, bjos
ResponderExcluircomo sempre Show, ameiiiiiiiii, Parabéns por mais esta materia e parabéns por este blog que a cada dia ja sinto como se fosse meu.bjos
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