A reflexão ética é a reflexão do agir humano e este se torna difícil de compreender por ser muito complexo. Precisamos, no entanto da reflexão, e esta o quanto mais coletiva, permite uma tomada de decisão mais humana. Mas por sermos diferentes, não podemos pretender uma certa igualdade na tomada de decisão, pois esta é sempre individual, “sou eu” que tomo a decisão.
As diferenças que tornam o ato humano complexo, além dos fatores biológicos e psicológicos, são a cultura, os valores e a história.
Nascemos e fomos educados em uma determinada cultura, isto é, temos um estilo de vida, tradições e normas sociais de comportamentos diversos. Quando o indivíduo está imerso em sua própria cultura, muitas vezes ele não tem o sentimento crítico em relação a ela e acaba tomando decisões, ações, e tendo reações de acordo com a cultura que pertence.
Um outro elemento são os valores. O ser humano, dentro de uma “normalidade” é sempre afetado pelas coisas que acontecem ao seu redor, pois somos seres afetivos. E a essas coisas percebidas também emitimos juízos de valor, damos um certo valor. E o valor está relacionado as nossas necessidades e se enquadram dentro de uma hierarquia, nos motivando de maneira diversa.
E ainda verificamos o ser humano como um ser histórico, isto é, um ser que consegue aliar o velho e o novo, a tradição e a mudança, que convive com a continuidade e a ruptura e é capaz de criar interdições e também transgredi-la. O homem possui características teleológicas e por isso é imprevisível.
Considerando, portanto a complexidade dos atos humanos devido as suas diferenças, e como a ética compreende toda a atividade humana, deveríamos sempre ligar suas questões em relação à justiça, ao poder e ao direito, vinculando-a à busca da verdade, pois a verdade nos liberta.
Após essa introdução gostaria de fazer uma reflexão sobre o comportamento ético, os atos humanos, no que se refere à atitude dos dançarinos no salão, no espaço onde se desenvolve de forma recreativa e de lazer a atividade de dança.
Tenho observado que muitos praticantes da dança de salão não tem muito claro o modo de utilizar bem o espaço físico bem como as regras básicas para se dançar no salão. Essa atitude pode acontecer por falta de esclarecimento nas academias de danças ou por falta de sensibilidade para com o coletivo. Quanto a primeira falta pode ser sanada através da insistência dos professores aos alunos de fazer conhecer essas regras e de incentivo a praticá-las já no ambiente de treinamento nas academias. Quanto a segunda falta – falta ética – ocorre um problema de educação e respeito pelo outro.
Gostaria, portanto de me deter nessa segunda falta e esboçar alguns passos para uma reflexão ética dentro do espaço da dança de salão.
Deveríamos fazer primeiramente a pergunta Porque sempre que pensarmos em uma proposta de ação – Dançar. Porque e para que vou dançar? Qual o meu objetivo e qual seria o dos outros? É me divertir, apresentar, dar show, conviver, relacionar-se, etc. Em seguida observar as pessoas, o espaço de dança e as mudanças em nosso ambiente e colher informações que possa me subsidiar para uma posterior avaliação e tomada de decisão. Qual é o tamanho do espaço para dançar, quantas pessoas utilizam esse espaço, quem são essas pessoas, qual é a forma de se dançar, etc. Na seqüência fazer um julgamento de valor dos fatos relacionando com os objetivos pessoais e coletivos da arte de dançar e os seus desacordos, isto é, lançarmos olhar para os pontos de vistas opostos, que são essenciais para a reflexão ética, pois uma visão oposta nos dá oportunidade de achar soluções inovadoras. Por fim providos de toda uma reflexão fazer uso do espaço dançante de maneira que se possa atender a nossa necessidade conciliando com a dos outros. Lembro que todo tem direito de usufruir o espaço dançante e que o espaço que eu ocupo se não for bem dimensionado pode estar roubando o espaço que pertence ao outro, por direito. Que a minha forma de locomoção se não for bem apurada, pode dificultar o fluxo e provocar acidentes. E que a minha forma de dançar pode também inibir aqueles que não conhecem muito bem da arte.
Voltando as diferenças gostaria ainda de considerar um aspecto que nos diferencia como ser humano, de um modo particular, dos outros animais: nós temos consciência de nossa incompletude, e por isso sempre buscamos, isto é, somos seres da esperança. Sendo incluso, buscamos a conclusão.
Por Afonso Vieira , Psicólogo
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