domingo, 4 de novembro de 2012

A DIALÉTICA DO AMOR - Falando de Amor com Mirian Marclay Melo


Preciso de outra alma, incolor, indolor.
Que não se perca em aflições
Em tantos questionamentos.
Já nem sei se preciso de respostas.
Pois os valores deste mundo não me servem.
Vida hipócrita que me cerca,
Onde o ter suplanta o ser
Desconheço o sono pacífico,
O sono dos justos,
O plácido repouso do espírito.
Há tanto em mim de pesadelo e comiseração
Que esqueço minhas metas.
A ambiguidade sentou-se à minha porta,
Exigindo-me coerência.

Necessito de uma alma que não seja tão vulnerável
Ao desprezo, desleixo,
Ao mundano modus operandi social.
Especialmente ao desprendimento emocional.
Como falar de amor quando as chuvas são de canivetes?
Meu oásis é meu próprio calabouço. A água é sangue.
Gostaria que esse sentir me fosse frio, como o caçador
Que elege, mata e descarta.
E não esta vil condição que me permeia,
Que atravessa a poesia, em golpe desonesto,
Sequestrando-me vida, fazendo-me inconstante.
Tornando o poema um caso natimorto tão denso quanto eu.
Expurguei o amor de mim tantas vezes em ato de
Negação, de preservação do próprio espírito.
Repiquei cada folha, cada confissão, cada grito, os desejos.
Mas em cada forma de reconstrução
O amor driblou as barreiras e refez-se.

Quem sabe fosse minh' alma insensível,
Insensata, inescrupulosa
E assim capaz de dominar a carne,
Escaldando em salmora as minhas feridas purulentas.
Talvez, nem deste modo fossem repelidos os demônios,
Muito menos se obtivesse redenção.
Há sangue do mar de amar
Em meus vermelhos cabelos.
Há um vazio maior que qualquer buraco negro.
Estou em fadiga, em fuga,
Engasgada com a vida.
E assim, sem mais saber a qual deus clamar
Tombei diante do altar como ao mundo vim!
Em aço blindei o corpo absorto
E certa de minha própria morte me entreguei a ti!

Morri em êxtase de infinitos atos carnais,
De estar a flor corpórea da pele cativada por tuas juras!
Fui em oferenda e em saga de cicatrizar uma a uma
As minhas tenras fissuras!
Muito além do córtex e das vontades abismais!
Amei mesmo sem saber se fui amada, íntegra.
Deitada aos pés do sagrado de mim
Permaneci em essência pura
Pois é a busca do amor que me liberta
De toda e qualquer loucura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita, seu comentário e muito importante para o Fuzuê das Artes