domingo, 30 de dezembro de 2012

O FRUTO DA TERRA por João Sebastião


Obra Nilson Pimenta - Foto: Rosylene Pinto
Há variados procedimentos que designam os campos das percepções, das interpretações, sobretudo das representações visuais.
Estes seguimentos encontram-se disponíveis ao verdadeiro pensar e fazer. Em cada artista, há determinado modo condicionante ao exercício da disciplina visual. São auxiliares, ou ferramentas para difundirem suas metáforas, suas linguagens.
Há os que transitam no campo da erudição, do popular, do metafísico, do expressionismo, do surrealismo, do primitivismo, enfim. Há espaços mais que suficientes a todos os demais participantes.
Estes acampamentos, estas representações mentais, estas narrativas, estes contextos, estes conteúdos, variam de pessoa para pessoa. Entretanto, a Arte é quem determina, ou coloca as suas próprias prerrogativas em cada um dos eleitos, dos escolhidos, para desempenharem tal ofício!! Tal papel representativo! Tal tarefa! É um dom inato!
Nilson Pimenta enquadra-se nesta significação "naturalística". Sua expressividade, sua arte, inspira-se e fundamenta-se no ato do "percorrer".
Começa de baixo para cima. Passa primeiro pela sola dos seus pés, ao tocar o chão. Sobe até a cabeça pensante. É audaz ao caminhar numa região fértil. Seu caráter e função plásticos, psíquicos, encontram-se mesclados, ou embrenhados em suas próprias vivencias culturais, ou suas raízes rurais. O seu verdadeiro, primeiro e último mapeamento das fluências, das idéias plásticas, é pois o chão brasileiro.

Esta prerrogativa tão e quanto natural, ao sentir do Nilson Pimenta, cresce e floresce no plantio intelectualizante do gesto de compor seus quadros. Suas roças! Suas lavouras. Ele carpe com as tintas e os pincéis o seu vasto lugarejo do império do sentir, da expressão pura.
E, nesse percorrer "bi dimensional", sobre a tela, sobre este terreno cromático, o qual é desempenhado em constantes tons azulados, com total certeza compreendo que, ele desnecessita da perspectiva linear. Incabível ao seu proceder artístico.
Ele ocupa apenas e tão somente a faixa que compreende uma porção planetária. O segmento celeste é mínimo. Trata-se de uma visão telúrica recortada em figurações simples e claras! Não nos deixa nenhuma dúvida diante da sua objetividade. Com seus pés grandes, olhos, e sua visão, traça, pinta e nos oferece o "Fruto da Terra" da sua leitura sintética.
Obra Nilson Pimenta - Foto: Rosylene Pinto

É o trator e o maquinista nessa operacionalidade cotidiana do fazer Arte. O "fazendeiro", o produtor de si mesmo em abundancia.
E, nessa natural deslocação, nesse percorrer campo afora, esbarra-se no terreno sensual e erótico da coisa.
O cio da terra, é pois o ardume da pimenta. Um certo calor levanta-se do lugar, e dá asas ao seu imaginar! Animais copulam-se com impudência. Cenas de casamentos coletivo ocorrem nos seus espaços. São excitantes constatações de luas-de-mel sobre as celas dos animais perfilados em direção ao leste. Aos leitos, às alcovas. Um jorrar de sêmens acontecerá, com certeza. Estes apuramentos, argumentos claros, objetivos, sensuais, são partes dos inserimentos da personalidade do artista. Atuam como elementos compositivos. Mostra-nos o caráter do masculino.
Grandes glúteos, mais parecidos com planetas, orbitam em vestimentas urbanas. Super justas. Coladas ao corpo feminino.

Seus diálogos visuais ocupam faixas pictográficas. São planos. Tem somente altura e largura, pois são visões quânticas. Seus plantios, seus milharais, suas vegetações, suas derrubadas, configuram-se em composições que, seriam em si mesmo, um mero fundo naturalista. Um adorno sem mentira, entretanto sem jamais perder a poesia.
São congruentes e verossímeis suas paisagens, passagens, ou pastagens dos seus campos e rebanhos sensíveis. São pinturas encantadoras.
Aglomerados de gente miúdas, transpiram ou denunciam uma novidade em certas telas.
Em particular no seu quadro: "Sem-Terra do Cristo", repletos de "pontinhos" Vale a pena conferir a mostra, presente no Museu de Arte e de Cultura Popular, na sala Aline Figueiredo Espíndola, em exposição no campus da UFMT.
João Sebastião Barros
Premio de Viagem
Crítico e Amante das Arte Visuais

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