Ele, Nuit e Ré
Escrevo desde sempre e
sempre mais. Nasci escritor e assim morrerei. Disse-me, ele, observando Nuit, com aquele olhar denso de amantes,
incomum. Acredita ser uma relação impossível, a deles. Amor platônico?! Não sei
ao certo. Aliás, era difícil ter certeza de algo que vinha dele, com aquele
aspecto macambúzio que outrora não existia.
Fora, sempre, um obliterador
da tristeza. Orgulhava-se disso! Era vistoso ler seus escritos sobre a
felicidade, amor, esperança... escrevia sobre qualquer assunto com a maestria
de artesão das palavras desencontradas nos teclados de um, agora, computador.
“Sou da velha guarda.
Na minha época não havia computador, smartphone, câmera digital, facebook,
twitter, tablet (...) não havia também essa hipocrisia e falso moralismo que há
hoje em dia. Os mais moderninhos dizem que a culpa é da TV. Eu, só sei que nada
sei”. Escreveu, ele, num artigo sobre o tempo que li numa bela manhã de chuva
torrencial. Dava para sentir o cheiro da terra molhada. Esse cheiro é
indescritível e deu outro sentido ao texto. Foi natural refletir sobre esse
senhor que tanto nos ensina.
Das várias sensações
que os seus textos me transmitem, a da experiência é a mais interessante. Ele é
um exemplo de pessoa experiente. Já viveu o suficiente para ser mais do que o
tempo pode nos transformar. E isso é fantástico. Ele tem apenas cinquenta e
dois anos de idade e já atingiu o flow.
Chego a ter uma inveja boa. Dessas que nos inspiram a sermos pessoas melhores.
O contraditório é que,
embora experiente, ultimamente ele segava os abrolhos d’almas que choravam as
lágrimas de um amor impossível. Transformou-se, com o passar do tempo, no
desalento. Fundiu-se a psique ao cosmo, outrora forjado nos teclados de uma
vida desinventada pelo amor inexequível. Nuit tinha Ré. Ele era o Deus que
completava a sua escuridão e fazia nascerem estrelas em seu olhar. Ao escritor
restava, apenas, ouvir o conselho do senhor tempo.
Edilberto Magalhães – edilbertomagalhaes@gmail.com
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