À primeira vista
Foram 800 km de
carro até chegar em Alta Floresta, no Norte de Mato Grosso. A viagem motivada
pelo trabalho rendeu boas surpresas, como conhecer o Centro Cultural TEAF, sede
do Teatro Experimental e ainda de quebra, assistir à estreia da peça “Concreto
Contra-Flecha”, que faz parte do projeto “Nossas Histórias – achados e
inventos”, aprovado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015.
Chegar na Cento
Cultural TEAF foi um tanto quanto intimidador. A casa ainda estava fechada, o
público esperava do lado de fora, conversando, bebendo. O clima familiar podia
ser sentido de longo, tão longo quanto estava eu e meu amigo, companheiro de
trabalho e viagem, o fotógrafo Junior Silgueiro. Mas, dado que só, logo fomos
recebidos por Junio Garcia, assessor de comunicação do TEAF.
Junio parecia com
aqueles amigos que a gente não via há anos. Contou sobre o processo de produção
da peça, ensaios, cenário, trilha sonora etc. Não demorou muito para se
afastar, se posicionar na porta principal do teatro e comunicar ao público que
o espetáculo começaria.
Tijolos, acordes,
suspiros
Ao entrarmos no
teatro, já encontramos de cara os atores Gean Nunes, Angélica Müller e Ronaldo
Adriano, caracterizados, prontos para dar vida aos personagens. Luzes se
apagaram, e atrás de estruturas de tijolos, um em cada canto do palco
inexistente – montado no chão, junto de um andaime, que lembra uma obra em
progresso – as falas se cruzavam, assim como as histórias dos personagens.
“Concreto
Contra-Flecha” é uma provocação nítida diante do processo de colonização
sofrida pelas cidades, mas neste caso, o enredo tinha como base, a colonização
de Alta Floresta. Três histórias se cruzaram, arrancando, risos, revolta e
lágrimas da plateia, que olhava atenta por trás de uma tela de proteção,
utilizada para proteger as estruturas que estão sendo construídas.
Para quem achou que
o andaime no meio do palco seria um mero objeto cenográfico, se enganou. Ele
deu vida à performance dos atores, que subiam e desciam por ele com categoria,
graça, leveza e agressividade, quando necessária. Destaque para uma cena de um
possível (?) ménage, onde os três atores de forma sincronizadas no andaime,
arrancam suspiros e arrepios da plateia.
Não passa
despercebida também, a atuação de André de Castro Pereira, responsável pela
criação e execução da trilha sonora. Tudo ao vivo, ele usava os acordes do
violão, intercalando com marteladas e outros sons vindo de objetos usados em
reformas, além da suavidade de uma escaleta, que deu o tom emotivo já no final
da peça.
Aplausos e lágrimas
O espetáculo se
encerra com a retomada de uma cena já vista no primeiro ato, tudo se abraça,
tal como a rotina da crescida cidade de Alta Floresta. Ao apagar das luzes, um
breve silêncio, e por fim, palmas. A plateia, em pé, não poupou palmas para o trabalho
desenvolvido ao longo de nove meses.
Os atores, ao lado
de toda a equipe técnica, foram aplaudidos e enaltecidos. O dramaturgo Lúcio
Pessôa, responsável em dar vida à trama, se fez presente e Eduardo Machado,
diretor do espetáculo também. Dificuldades foram citadas em seus
agradecimentos, perdas, vitórias e claro, sorrisos com o resultado final.
O brinde à estreia
foi feito no quintal, onde horas antes, o clima familiar tomava conta. Fez mais
sentido. O Centro Cultura TEAF é um exemplo criatividade, acolhimento e
resistência em meio à floresta no ‘Nortão’ de Mato Grosso.
Texto: Yuri Ramires
Fotos: Junior
Silgueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita, seu comentário e muito importante para o Fuzuê das Artes