quinta-feira, 27 de julho de 2017

“Concreto Contra-Flecha” por Yuri Ramires, com registros fotográficos Junior Silgueiro


À primeira vista
Foram 800 km de carro até chegar em Alta Floresta, no Norte de Mato Grosso. A viagem motivada pelo trabalho rendeu boas surpresas, como conhecer o Centro Cultural TEAF, sede do Teatro Experimental e ainda de quebra, assistir à estreia da peça “Concreto Contra-Flecha”, que faz parte do projeto “Nossas Histórias – achados e inventos”, aprovado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015.
Chegar na Cento Cultural TEAF foi um tanto quanto intimidador. A casa ainda estava fechada, o público esperava do lado de fora, conversando, bebendo. O clima familiar podia ser sentido de longo, tão longo quanto estava eu e meu amigo, companheiro de trabalho e viagem, o fotógrafo Junior Silgueiro. Mas, dado que só, logo fomos recebidos por Junio Garcia, assessor de comunicação do TEAF.
Junio parecia com aqueles amigos que a gente não via há anos. Contou sobre o processo de produção da peça, ensaios, cenário, trilha sonora etc. Não demorou muito para se afastar, se posicionar na porta principal do teatro e comunicar ao público que o espetáculo começaria.

Tijolos, acordes, suspiros
Ao entrarmos no teatro, já encontramos de cara os atores Gean Nunes, Angélica Müller e Ronaldo Adriano, caracterizados, prontos para dar vida aos personagens. Luzes se apagaram, e atrás de estruturas de tijolos, um em cada canto do palco inexistente – montado no chão, junto de um andaime, que lembra uma obra em progresso – as falas se cruzavam, assim como as histórias dos personagens.
“Concreto Contra-Flecha” é uma provocação nítida diante do processo de colonização sofrida pelas cidades, mas neste caso, o enredo tinha como base, a colonização de Alta Floresta. Três histórias se cruzaram, arrancando, risos, revolta e lágrimas da plateia, que olhava atenta por trás de uma tela de proteção, utilizada para proteger as estruturas que estão sendo construídas.
Para quem achou que o andaime no meio do palco seria um mero objeto cenográfico, se enganou. Ele deu vida à performance dos atores, que subiam e desciam por ele com categoria, graça, leveza e agressividade, quando necessária. Destaque para uma cena de um possível (?) ménage, onde os três atores de forma sincronizadas no andaime, arrancam suspiros e arrepios da plateia.
Não passa despercebida também, a atuação de André de Castro Pereira, responsável pela criação e execução da trilha sonora. Tudo ao vivo, ele usava os acordes do violão, intercalando com marteladas e outros sons vindo de objetos usados em reformas, além da suavidade de uma escaleta, que deu o tom emotivo já no final da peça.
Aplausos e lágrimas
O espetáculo se encerra com a retomada de uma cena já vista no primeiro ato, tudo se abraça, tal como a rotina da crescida cidade de Alta Floresta. Ao apagar das luzes, um breve silêncio, e por fim, palmas. A plateia, em pé, não poupou palmas para o trabalho desenvolvido ao longo de nove meses.
Os atores, ao lado de toda a equipe técnica, foram aplaudidos e enaltecidos. O dramaturgo Lúcio Pessôa, responsável em dar vida à trama, se fez presente e Eduardo Machado, diretor do espetáculo também. Dificuldades foram citadas em seus agradecimentos, perdas, vitórias e claro, sorrisos com o resultado final.
O brinde à estreia foi feito no quintal, onde horas antes, o clima familiar tomava conta. Fez mais sentido. O Centro Cultura TEAF é um exemplo criatividade, acolhimento e resistência em meio à floresta no ‘Nortão’ de Mato Grosso. 
Texto: Yuri Ramires
Fotos: Junior Silgueiro









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