quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Manoel de Barros é do mato, do Mato Grosso!

Manoel de Barros, poeta - imagem: google
 Do chão enlameado na beira do rio Cuiabá, nasce o poeta de Barro.Ele é chamado de Manoel, é filho de João e tem na fala a simplicidade do mato. Manoel de Barros é do mato, do Mato Grosso!  Em meio à poeira do verão cuiabano, Manoel vem para botar água nesse pó, e fazer dele lama, barro!  Este simples (nobre é sua simplicidade) poeta, logo foi morar com a família em Corumbá, mas nunca saiu do Mato Grosso, nasce no norte e vive no sul dele. Manoel de Barros tem a essência do mato-grossense. Nasce numa época em que dois estados eram um apenas, e assim é para ele até hoje. Nada de divisões, afinal a poesia tem o poder de unir e não separar. O Mato Grosso nunca saiu dele, o carregou para o Rio de Janeiro, quando foi estudar. É formado em direito, mas a poesia sempre esteve nele e não há como negar, que isso ele faz direito, escreve.
Manoel fez um intercâmbio na França, mas sem sair do Brasil. Por meio dos livros de Arthur Rimbaud descobre a infinitude das palavras e começa a usá-las. “Descobri que servia era pra aquilo: Ter orgasmo com as palavras."
Logo conheceu Karl Marx e se encantou com sua poesia revolucionária. Era época de ditadura e não se manteve escondido. Mas quando Carlos Prestes foi solto e fez seu discurso apoiando Getúlio Vargas, uma decepção tomou conta de Barros e foi-se ao Pantanal, para a fazenda de seu pai.  Ainda não sabia da vontade que tinha de se estabelecer no meio do Mato. Então partiu para uma viagem pela América, passou pela Bolívia, Peru e ancorou em Nova York nos Estados Unidos.  Muito diferente de sua terra natal, lá em NY não encontrou poeira, muito menos lama. O barro foi substituído pela neve que caia enquanto fazia cursos de cinema e pintura. Lá conheceu outros poetas como Federico Fellini que conseguia fazer poesias audiovisuais. Quando conheceu o cinema, mergulhou na experiência, assim como fez com a pintura, quando se impressionou com Van Gogh, Picasso e tantos outros poetas das tintas.  Em sua volta á terra que lhe deu origem, Manoel trazia na bagagem muito mais que roupas de frio para combater a neve de NY. Trouxe uma carga extra de conhecimento e liberdade, que obteve através da arte. Liberdade foi o que encontrou na fazenda que era de seu pai no Pantanal mato-grossense.  Aquele lugar se tornou seu mundo de inspiração. Apesar de já ter se aventurado na escrita e publicado alguns livros, foi da sua cadeira de balanço de frente para o mato que sentiu o sossego necessário para poetizar a vida.  Manoel de Barros, saído do barro do rio Cuiabá, já recebeu 13 prêmios literários e publicou mais de 20 livros que devem fazer parte da sua estante.  Ninguém pode saber mais de Manoel, do que o próprio, portanto segue seu poema intitulado “Auto-Retrato Falado” onde conta melhor do que eu sua história. O poeta conta tudo com as melhores palavras.

Manoel de Barros, poeta - imagem:google
Auto-Retrato Falado
Manoel de Barros

Venho de um Cuiabá de garimpos 
e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda 
no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá
entre bichos do chão,  aves, 
pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes 
por gosto de estar  entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal 
onde sou  abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não 
me achei — pelo que fui salvo.
Não estou na sarjeta porque 
herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral 
porque só faço  coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore. 
Por: Vinícius Masutti  Especial para o Diário de Cuiabá 

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