sábado, 17 de dezembro de 2011

Rasqueado Cuiabano

imagem: www.rasqueadocuiabano.com.br
Definição da palavra rasqueado: "...arrastar as unhas ou um só polegar sobre as cordas, sem as pontear". (Acordes em glissandos, rápidos, rasgado, rasgadinho, rasgueado e rasgueo) - Dicionário Musical Brasileiro - Mário de Andrade. Origem do Rasqueado Cuiabano.

O termo "rasguear Ia guitarra" é expressão ibérica, de origem árabe-cigana (sul da Península-Ibérica). 
Em Mato Grosso, a expressão musical rasqueado cuiabano ou dança popular mato-grossense, traz no seu processo histórico toda uma saga, que começou após o fim da Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai), quando os prisioneiros e refugiados da Retomada de Corumbá ficaram confinados à margem direita do Rio Cuiabá, atualmente cidade de Várzea Grande.

Logo após o final do conflito, estes prisioneiros não voltaram para seu país de origem, aqui permanecendo e espalhando-se ao longo do rio, miscigenando-se e interando-se à vida dos ribeirinhos. Essa integração resultou em várias influências; costumes, linguajar e principalmente danças folclóricas: a polca paraguaia e o siriri mato-grossense. A primeira, pulsante e larga, modulada no compasso ternário-composto, a segunda, saltitante, com percussão forte (de origem negra-bantu) modulada no compasso dois por quatro. A fusão dessas duas danças resultou numa terceira, o pré-rasqueado. 
O pré-rasqueado limitou-se aos acordes de siriri/cururu, devido ao seu desenvolvimento na viola-de-cocho, nos chamados tchinírins. (baile da rale), onde as formas de dançar receberam diversas designações como: liso, crespo, rebuça-e-tchuça (Termos populares dados aos movimentos coreográficos da dança em salão) para mais tarde participar das festas juninas, carnaval ou qualquer exaltação festeira dos ribeirinhos. Na baixada cuiabana, mesclou-se com o chamame pantaneiro, que estava em formação, nascendo o chamado rasqueado de fronteira, pois o desenvolvimento foi com a sanfona de quatro e oito baixos (pé-de-bode) e mais tarde com o acordeão de cento e vinte baixos, o qual tornou-se hoje o instrumento marcante do rasqueado de fronteira. Quanto a melodia e ritmo, o pré-rasqueado alternou-se por algum tempo com facetas duplas, isto é: toadas de siriri apareciam como rasqueado e toadas de rasqueado como siriri. Com a proclamação da República e a necessidade do maior entendimento entre as duas classes (ribeirinhos e elite imperial), surgiu a oportunidade da popularização do rasqueado. Os senhores da classe imperial precisavam serem eleitos pelo voto do povo. Isto levou os coronéis a buscar uma música que trouxesse a população para as praças. Iniciando-se, então a assimilação do ritmo popular, denominado rasqueado. Mais tarde, com o crescimento das cidades, apareceram as primeiras zonas de prostituição, e o pré-rasqueado saiu das bocas das moças da noite e, do convívio destas com os músicos e coronéis nos cafés, e foi parar nas partituras dos mestres de bandas de música para, mais tarde, aparecer nas retretas já com vários arranjos de influência musical popular muito comum na época, como o chorinho, valsa, samba, maxixe, tango de Ernesto Nazareth etc. A entrada dos instrumento de sopro (sax, trombone, trompete, clarinete, etc.) caracteriza o rasqueado como música e dança urbana. Nesse mesmo tempo, os trovadores de versos e cantores populares, cedem lugar aos metais de sopro das bandas marciais e, começa, assim como aconteceu com o chorinho, maxixe, marcha, jazz, tango, fox-trote, a era dos instrumentos voz-solo nas orquestras. O rasqueado desperta com maior intensidade na população da periferia das cidades da Baixada Cuiabana quando começa a ser executado com os hinos de santos: acompanhando a bandeira do Senhor Divino, São Benedito, procissão de São João, e indo aparecer nos chamados chá co bolo — Expressão típica da Baixada Cuiabana, corrutela de "Chá com Bolo" (café-da-manhã a base de bolos típicos). É tradicional na festa dos santos católicos (São Benedito, Senhor Divino, São João, São Pedro etc...) o dono da festa fazer a alvorada ao som do hino do santo festejado e oferecer o "tchá cô bolo" para começar a festança. Usa-se o termo "chá" pois desde o século XIX a bebida servida, era um chá feito de erva mate queimada e adoçada.
A elite social que ainda se divertia ao sabor de sonatas românticas nos saraus abominou o rasqueado à primeira vista, considerando-o, coisa de gente de beira de rio. Esse quadro só vai se alterar com a juventude das décadas de 20 e 30, onde Mestre Inácio, Honório Simaringo, Conjunto Serenata, até o piano de Zulmira Canavarros e Dunga Rodrigues conseguem infiltrar o rasqueado nas noites de saraus e com o endosso das famílias cuiabanas mais abastadas, que enviavam seus filhos para concluir o 3 grau em Asuncion e Buenos Aires (não existiam faculdades nessa época em Cuiabá), os quais voltavam trazendo partituras musicais de polca paraguaia que era uma das raízes do rasqueado. Sem contar com a tática demagógica da política pão e circo, onde a música escolhida para ser executada nos comícios, festas e encontros, era, obviamente o que o povo queria ouvir.
Destacaram-se grupos musicais voltados ao tema; Banda do Mestre Ignácio, Conjunto Serenata, Zulmira Canavarros, Dunga Rodrigues, Nardinho, Bejamim Ribeiro (acordeonista). Conjunto Cinco Morenos. Também fizeram história os compositores Honório Simaringo, José Agnelo, Mestre Albertino, Vicente dos Santos, Tote Garcia, Luiz Cândido, Luiz Duarte, Mestre Luiz Marinho, Zelito Bicudo, Odare Vaz Curvo, Nilson Costantino, Namys Ourives, Dante Mirágiia, Rabelo Leite, Gigo, Chilo e tantos outros.
Uma das peculiaridades na história da música mato-grossense é o fato do nome "rasqueado cuiabano" ter sido cristalizado e popularizado pelo conjunto serenata, que observou as conotações autóctones da música que se fazia em Cuiabá, estava longe da polca paraguaia, como também do siriri. Concluindo que o rasqueado era o canto de uma cidade nova, era um som urbano que se desenvolveu nos metais das bandas de mestre Ignácio e Albertino, tinha um sotaque de um povo que gostava das mesmas coisas, melhor dizendo era o som e dança da Baixada Cuiabana. Era um rasqueado cuiabano.


Por: MILTON PEREIRA PINHO "Guapo" (http://www.rasqueadocuiabano.com.br)

Veja agora vídeos desse ritmo contagiante que é o 
RASQUEADO CUIABANO





Vamos seguir o conselho do nosso Doutor do Rasqueado João Eloy, 
"não deixe o rasqueado morrer" o vídeo também 
faz uma homenagem aos nossos cantores de Rasqueado 



Indicamos também para quem quiser saber mais sobre o Rasqueado Cuiabano, o livro:  
O QUE É O RASQUEADO CUIABANO?
Autora: Zuleica Arruda
ISBN: 85-87226-48-8
Editoras: Entrelinhas 
Edição: 1ª (2007)
Dimensões: 18 x 20 cm
Nº de páginas: 84 páginas coloridas
Papel: Couche fosco 115 gr.
Encadernação: Costurado, colado.
Capa: Papel cartão com laminação fosca

Esta publicação vai muito além de O que é o Rasqueado Cuiabano. Ela também fala sobre quem fez e quem faz desse gênero/ritmo uma das marcas características da cultura da Baixada Cuiabana, pela sua originalidade. Este ritmo contagiante tem qualidade e potencial para se espalhar pelo mundo, cantando e divulgando a cultura mato-grossense. 
Zuleica Arruda também registra aqui o trabalho desenvolvido durante décadas por Vera-Zuleika na defesa da cultura, diversidade e meio ambiente, e dedica este trabalho às escolas e aos jovens mato-grossenses, para que conheçam e discutam sua cultura e diversidade através de um dos seus mais ricos canais de expressão: a música. “Que ela seja porta-voz das nossas emoções, contradições, angústias, alegrias e da sociedade que desejamos ter.”
Acompanha CD de Rasqueado



Espero que tenha gostado, porque eu, adoro dançar nosso Rasqueado Cuiabano!!
 

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