Maria Taquara - Escultura Rosylene Pinto |
Maria Taquara
Ela simplesmente existiu e desde então enche de graça o imaginário daqueles que vivem ou passam por Cuiabá. Mulher, pobre e negra. Maria Taquara sempre soube que a vida não seria fácil, ainda mais em uma sociedade conservadora. Mas foi neste contexto histórico que Taquara se transformou em uma lenda na cultura local. Figura presente nos livros de cultura regional. Ela não fez nenhum ato cívico, não combateu na guerrilha e nem governou nenhuma cidade. Mas no contexto histórico de uma sociedade conservadora que Maria Taquara se transformou em uma lenda na cultura Mato-grossense. Maria Taquara foi à primeira mulher a abolir as saias, a calça comprida, foi sua marca registrada, em uma época onde calça comprida só era utilizada pelos homens, peças exclusiva do vestuário masculino. Porém Maria Taquara não pensou duas vezes em usar calça durante suas andanças pelas ruas de Cuiabá. Dizem alguns historiadores que ela causou escândalo à sociedade por seus hábitos que não era proposital, foi à necessidade que a levou a usar roupas mais resistentes para a labuta nos córregos e rios da capital, Maria era lavadeira. As andanças de Maria pelas ruas da capital davam um sabor a mais na vida de comerciantes e trabalhadores da região central, que a conheceram. Por trás da lata d’água na cabeça e do pé descalço havia uma denúncia social. Maria representou em cenas da vida real a marginalização de uma grande parcela da sociedade cuiabana que estava alheia ao processo de transformação social que vigorou fortemente em meados dos anos 50, em Cuiabá. A lata de querosene sempre vazia era mais um símbolo de que aquela gente encarnada por ela queria melhorar de vida. Indignada ou até avessa ao processo histórico, Maria recorria a longos momentos de abstração com seu cigarro de palha, debaixo das árvores de Cuiabá. Foram muitos estes momentos registrados por alguns que confessam ter visto Maria desta forma.
Maria Taquara - imagem ayruman |
Maria Taquara, Maria meu bem
Tinhosa, sisuda, esperta, suja, maltrapilha, negra, espantosa e desembaraçada. Qualificativos ou não, estes são alguns dos adjetivos que a história cuiabana tratou de injetar em Maria Taquara. Foi o biótipo, alta e magra, que lhe rendeu o apelido de Taquara. E a história ainda reservou outros capítulos para a personagem lendária. Taquara morava em uma cabana localizada no bairro Goiabeiras. Ela residia mais precisamente nos fundos do 44° Batalhão do Exército. Nesse período, as más línguas contam que Maria Taquara não rejeitava o carinho dos aspirantes ao Exército. Desta constatação, ela ficou assim denominada: "de dia Maria Taquara e, de noite, Maria meu bem".
Que fim levou Maria?
Mas quando Maria deixou de perambular pelas ruas de Cuiabá? Não há registros na história local que comprovem o desaparecimento de Taquara. O que existe são alguns depoimentos de pessoas mais próximas a ela, mas que nada acrescentam. Talvez a atemporalidade presente na história de Maria explique a sensação de que ainda teremos a oportunidade de conhecê-la durante suas andanças pelas ruas da capital.
Depois de chegar às páginas dos livros de cultura regional em Mato Grosso, Maria Taquara foi homenageada com uma praça em Cuiabá. Hoje Taquara não caminha como antes pelas ruas e becos. Ela está em pé e descalça sobre uma estrutura de concreto no centro da cidade. Seu corpo é metálico, formado por uma estrutura de ferro forjado que pesa mais de 300 quilos. Segura de si, Maria está de olhos arregalados. É o espanto com tanto barulho e movimento de pessoas que passam apressadamente à sua volta. A velha trouxa de roupas na cabeça ainda é presente. São as marcas de um tempo que não volta mais.
Maria Taquara - Escultura de Haroldo Tenuta |
No ano passado (2011) foi inaugurada na Rua Desembargador José de Mesquista, nº 239, Araés. Cuiabá - MT. Ao lado do edifício Sunset Boulevard, a Maria Taquara Pães local lindo e muito aconchegante, o nome é também uma homenagem a esta figura lendária que é Maria Taquara.
Maria como Taquara. Taquara como Maria. Indissociáveis, estas figuras marcaram a cultura regional simplesmente porque foram únicas. Moisés Martins, em um poema, presta homenagem à cuiabana:
Imagem: Maria Taquara Pães |
“A sua presença é necessária sim!
Maria Taquara, Maria Mulher, ou Maria,
Pois desmascaras esta sociedade vazia,
De amor, hipócrita, promíscua e de festim! (..)
Aqueles que tratavam com desdém,
Cujos espíritos eram mendigos e de tara,
Para eles, de dia eras Maria Taquara,
Entretanto, à noite eras Maria Meu Bem!”
Por Rosylene Pinto
Fonte de pesquisa: historiografia matogrossense, RMTonline, Moisés Martins e Overmundo.
Parabéns pela matéria, muito bacana mesmo, e obrigado por citar a Maria Taquara Casa de Pães.
ResponderExcluir