Sarau do Sodré - foto:Flavianny Tiemi |
O Sarau
Foi a cantora e compositora paraibana Renata Arruda que disse: “Fazer da vida um pesadelo é a arte de muitos. Fazer dela um nada é a arte da maioria. E fazer dela um sonho é a arte do artista”.
Estive na semana passada no sarau em homenagem ao dia nacional da poesia e ao poeta Antônio Sodré. O evento foi realizado pela Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso e produzido por Luciene Carvalho e Eduardo Ferreira. O sarau faz parte das atividades em comemoração ao centenário da Biblioteca Estadual Estevão de Mendonça e teve como palco a galeria de artes da SEC.
Poesia é uma forma de se expressar e transmitir sentimentos, emoções e pensamentos. Antigamente, as poesias eram cantadas, acompanhadas pela lira, um instrumento musical muito comum na Grécia antiga. Por isto, diz-se que a poesia pertence ao gênero lírico. Segundo Manuel Pires de Almeida (1597-1655): "poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice."
Antônio Sodré, mais conhecido como Sodrezinho, é um dos personagens mais representativos da cultura mato-grossense. Natural de Juscimeira MT, mudou-se para Cuiabá no final da década de 70, época que iniciou a escrever poemas, e ingressou na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) no curso de história no início dos anos 80, depois de letras e posteriormente música. Sodré gostava de denominar-se “el poeta de la transmutación y de la trancedencia!”. Das diversas ações culturais que esteve envolvido, podemos citar o projeto de poesia nas escolas “Poesia Necessária”, do qual foi o idealizador. Em 2011 Sodré faleceu.
Bom, fiquei sabendo do evento através da minha namorada e confesso que, a princípio, não quis ir. Mas, após avaliar alguns fatores, resolvi “ComerArte”. Chegando à galeria percebi que várias vidas se apresentaram diante de mim e a perfeita harmonia entre a arquitetura do espaço, poemas, desenhos, livros, audiovisual, pessoas, passos, organização, sonhos... deixou-me claro mais uma vez como a sensibilidade pode mudar a realidade e fazer com que a nossa mente ganhe outras dimensões, tornando-nos não apenas “meros receptores de arte”, mas sim parte fundamental da arte. Arte esta tão difundida por Sodré, cantada por Capilé, versada por Carvalho, capturada por Sypozs e atualmente tão fomentada pelo “Dom”, da Magna Domingos, a frente do Pavilhão das Artes.
O Sarau foi fantástico e contou com a participação de artistas de diversos segmentos – assumidos ou não, mas artistas na essência –. Um dos elementos que poderiam comprometer o evento: o barulho dos carros na rua que entrava pela porta, não atrapalhou a maravilhosa experiência artística que quem estava presente pode ter. Muito pelo contrário, o barulho mesclou-se ao clima da galeria e tornou-se parte quase essencial do evento, diria eu que até deu um certo chame.
Eventos como esses são fundamentais para praticarmos o fitness intelectual, que parece-me cada vez mais raro nesses tempos de atrofia mental, mentiras simbólicas e estresse ideológico. Sai de lá inspirado e percebendo que não há apenas uma luz no fim do túnel: há um trem-bala que nos fará chegar o quanto antes nessa luz, que já podemos dizer: está quase no início do túnel. Resolvi ir caminhando para casa e refletindo acerca do que eu tinha visto e sentido, quando fui “pego de assalto” por alguns carros com o som “no doze”, cerveja, loiras e morenas gostosas, pagode e funk de qualidade duvidosa... Foi ai que eu percebi que já estava de volta ao país da contradição, onde podemos ir do céu ao inferno em poucos segundos, sem nem passarmos pelo planeta terra. Foi assim que me senti.
Bom, certamente haverão outros sarais, como também certamente haverão outros carros com o som “no doze”, cerveja, loiras e morenas gostosas, pagode e funk de qualidade duvidosa... Acredito, sinceramente, que há uma grande probabilidade da segunda opção ter o seu processo de entropia acelerado, mas o sarau estará lá, para poucos, mas estará lá!
Pé-de-verso
Uma folha branca:
Pede um verso meu!
Uma folha branca:
Pede um verso meu!
Uma rosa branca:
Pede um verso meu!
Uma pauta em branco:
Pede um verso meu!
Uma árvore torta:
Pé de um verso meu!
Antônio Sodré - In: "A Besta Poética"
Pede um verso meu!
Uma pauta em branco:
Pede um verso meu!
Uma árvore torta:
Pé de um verso meu!
Antônio Sodré - In: "A Besta Poética"
Por: Edilberto Magalhães: Blogueiro, Turismólogo, Produtor Cultural, Organizador de Eventos e Cerimonial – edilbertomagalhaes@gmail.com
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