Luciene Carvalho |
Eu me seguro em minha palavra”. Assim a poeta, contista e cronista Luciene Carvalho pede licença para entrar na Academia Mato-grossense de Letras , onde toma posse e passa a ocupar a cadeira de número 31, a partir da noite deste dia 13 de agosto de 2015. Às 19h30 a primeira mulher negra e uma da poucas “baronesas” da Casa segue ao marco de imortalizar sua obra, num canto de amor à Cuiabá, seus chitões, linguajar, sabores e cores. Corumbaense, nascida no fundo do Pantanal, e cuiabana por adoção, ela é produto absolutamente do quintal cuiabano, do bairro Porto, onde mora e festeja na Casa Barão com a mesma peculiaridade.
“Eu acredito que a Casa fez um esforço de renovação quando escolheu o meu nome, pois se preocupa com a posterioridade. Aquilo que não se renova morre. O que posso falar é que estou escolhendo este caminho não pelo louro do título, mas por ser o lugar o único que se preocupa efetivamente com as Letras mato-grossenses. É um momento onde me rendo por completo”, sintetiza a futura imortal.
Ela leva pão poético com sua voz e seu corpo. Mais que uma declamadora de poesias, Luciene Carvalho acredita na força do olhar lírico. É uma mulher que gosta muito de banana, com carne picada, que escreve por necessidade primária, que tem um muso e sonha de viver poesia.
Luciene Josefa de Carvalho tem 50 anos de idade, um pai baiano, coragem para amar, busca pelo inédito, um amor imenso por esta terra de “tchapa e cruz”, que lhe acolheu desde 1974, e por lei tem título de cidadã cuiabana desde 7 de abril de 2008.
Filha da saudosa livramentense (do município de Nossa Senhora do Livramento) de Cuiabá, como descreve Luciene a naturalidade de sua mãe Maria Benigna Conceição Carvalho, que partiu há poucos meses de seu quintal e da vida, com o pai Basílio Sales de Carvalho, é única filha entre cinco irmãos.
Quem conhece a casa de Luciene Carvalho, em sua riqueza de simplicidade irá reconhecer o ambiente em cenário produzido na varanda da Casa Barão, daquele quintal que só se encontra no Porto, com a originalidade intocada de mais de 70 anos.
Também terá um toque de sofisticação pelo som instrumental, cuja trilha musical não poderia ser melhor escolhida, na atribuição de um dos maiores músicos e instrumentistas de Mato Grosso, o contrabaixista Ebinho Cardoso.
Estão colaborando para o cenário Creuza Medeiros, com o viveiro “Verde que Te Quero Verde”. Artistas da cuiabania também irão contribuir na parte interna da Casa, como os atores Vital Siqueira e Maurício Ricardo, e o cantor Gabriel.
Ao voltar novamente o olhar para Luciene há de contar que ela tem influência de toda a música popular brasileira dos anos 70 e 80, de Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Marina Lima, Djavan até Cazuza.
Bipolar nas horas vagas, os traços de sua personalidade é de acreditar que tem asas, não só para voar, mas para colocar um monte de gente embaixo delas.
Acreditando nesta força ela propõe para a Academia a atitude de aprendizado, de lapidação, com a contribuição daquilo que a declamadora tem de efetivo, a habilidade de criar plateias, pois para ela declamar é “emocionalizar a palavra”.
“É dito que o brasileiro não gosta de ler, não consome a poesia como produto. Mas não é a verdade que vejo nos shows que faço”, contesta.
A poeta já percorreu todo o Mato Grosso em uma vida dedicada à declamação, que é mais que poesia, pois começou declamando e depois veio a escrita. Conta que foi aos dois anos e meio de idade que estreou, em Corumbá (MS), onde declamou um pequeno trecho do poema chamado “As Pretinhas da Guiné”, de autor emblemático desconhecido.
E foi bem além. Partiu para São Paulo, na “Casa das Rosas”, de difusão poética e de articulação da cultura, na envolvente avenida Paulista, em 22 de junho de 2007. Também foi ao Chile, país em que desembarcou por duas vezes levando sua arte, em novembro de 2006 e maio de 2008.
Além disso, a difusão e pesquisa de seu trabalho foi resultado para todo o Brasil. Mario Cesar Leite apresentou um trabalho sobre a obra poética de Luciene Carvalho em Londres, em 2014.
Quando se fala em políticas públicas ela descreve como a ocorrência de um hiato muito grande com relação à Cultura Estadual. “Eu ainda sonho com uma política pública de ação continuada, que colabore na construção de mercado literário, para que o escritor possa viver de seu trabalho. Que se compreenda a necessidade de uma cadeia produtiva contínua. É urgente que se reconheça as Letras no Mato Grosso. São tantos Manoéis de Barros, e cada Ivens, e cada Lucinda Persona, e cada Aclyse Mattos. É um sonho, reticências”, enfatiza.
No momento já tem dois livros prontos à espera de publicação, mas antes de tudo pretende produzir e lançar um primeiro CD de poesias declamadas.
Luciene Carvalho ocupa a cadeira de número 31, que tem por patrono José Delfino da Silva. O último acadêmico que ocupou a posição foi Adauto Dias de Alencar, falecido em 16 de outubro de 2013.
Serviço
Posse de Luciene Carvalho
Data: Quinta-Feira (13)
Horário: 19h30
Local: Casa Barão de Melgaço – Rua Barão de Melgaço, 3869, Centro (Cuiabá/MT)
Fonte: DC BEATRIZ SATURNINO
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