Senta a Pua : O olhar curioso de um Amador
Foto: Cris Kobayashi #digaxparacris |
Nos primeiros 3 Quilômetros
passamos por uma estrada de terra que circunda a base da Cindacta até a entrada
numa mata de vegetação de capim e grama alta. A trilha era estreita e mal dava
para ultrapassar. Neste momento percebi que quem corre por performance já deve
largar na frente e ultrapassar na faixa de dispersão dos três primeiros
quilômetros, visto que as posições se definem e ao chegar na trilha, os
pelotões primam pelo respeito e segurança de não sair desesperado para ganhar
tempo e comprometer a prova com acidentes. O ritmo era ditado por quem estava à
frente e eu só pensava em olhar para baixo para reconhecer o terreno onde
pisava, afinal tudo ali era novidade para mim.
Quando a transição começou a
partir do 5K, a vegetação baixa cedeu lugar a trechos rochosos com pedras
pequenas soltas, alguns terrenos irregulares e arvores com raízes expostas e
folhas muito úmidas. Comparei a mesma situação de estar dirigindo no tempo seco
e de repente começasse a chover. Ou seja, a forma de dirigir muda, como mudou
nossa forma de correr. A natureza conversa com o atleta o tempo todo dando
sinais, alguns atletas que ignoraram tiveram pequenos acidentes como torções, escorregões,
tropeços e deslizes, situações muito normais de quem está em velocidade e se depara
com situações adversas. Aqui cabe um alerta do quanto é importante correr com
equipamento adequado, sobretudo tênis de drop baixo com entressola especifica
para trilhas. Durante o trecho de 6 a 8K parei quatro vezes para ajudar os
atletas que paravam. Após certificar que não era nada mais grave, segui o
percurso já desconectado dos pelotões maiores.
Quanto mais o relevo conduzia
para baixa altimetria, mais eu preocupara porque sabia que uma hora teria que
subir para chegar até os pontos de hidratação que ficavam no cume do percurso.
Quando começou o segundo terço do trajeto, após o 7K chegou o tão esperado
“morro acima”, eram subidas intermináveis, parecia que aquilo não tinha fim. A
contrapartida era a sinfonia dos pássaros, grilos e outros sons tão harmoniosos
que servia como um aminoácido, tirando a fadiga da alma’. Perfeito. Depois de
tantos aclives e declives aparece a civilização no 10K, Chapada Aventura. Ali,
pudemos ver o sol por inteiro e um ponto de hidratação com Staff muito
atencioso e didático, nos orientando sobre a prova.
Saímos por uma estrada de
acesso a Cidade de Chapada mas sem avançar no perímetro urbano, por conta de
uma nova inserção na mata adentro em direção ao Atmã Resort. Eu estranhei
novamente e a impressão é que havia mais descidas do que propriamente subidas e
a expectativa aumentava sobre “quando teria novas subidas íngremes?”
Passei pela placa que
identificava 12K e estava tão envolvido com a prova que nem pensei que a metade
do percurso já estava concluída, bem como aquela distancia já era conclusiva
para os atletas que optaram por correr os 12 mil metros e foram por outro
percurso. Quem
já foi no Atmã sabe que há uma subida que homologa e valida toda força
gravitacional e “suga” corpos para baixo por mais esforços que eles façam parta
subir. Já vi ônibus refugar naquele trecho e eu me vi frente a frente com um
grau de inclinação jamais percorrido a pé. Naquele trecho pernas bambeiam, o
pensamento esgota, os pulmões dilatam e a fadiga castiga e o combo fecha com as
panturrilhas queimando. Quanto pior melhor...
Ufa! Chegamos ao ponto
de hidratação no alto dessa subida, ali, encontramos vários atletas voltando
desanimados igual “Juriti peloteado no barranco”, com uma feição deplorável,
sobretudo ao saber que ainda iríamos passar por onde eles passaram. Ouvi um
amigo gritar: - Nossa!!! Você ainda vai descer??? Rapidamente outro falou: -
Cara! Prepare-se para você ver um dos cenários mais lindos da sua vida!! Rumei em direção ao paraíso. Por um
quilometro percorremos até chegar naquele lugar paradisíaco, único, imponente,
que faz nos conectar não só com a existência de Deus como a presença dele.
Qualquer qualificação ou descrição e narração que fizer aqui sobre o lugar,
irei cometer injustiça. Por conta disso, liguei minha câmera do celular, fiz
movimentos horizontais panorâmicos e Dolly in, simulando a visão subjetiva do
corredor e só parei a câmera na placa que indicava 14K, ela ficava num rodapé
de uma escada rustica, isso mesmo, o percurso tinha uma escada que dava acesso
a um ponto mais alto ainda, ali deveria ser um ponto de controle de luxo,
porque havia vários staffs e um fotografo profissional registrando o momento
para a eternidade.
Saímos dali já
retornando para a Chegada, dois terços da prova já se foram e preparei para
fazer um retorno rápido. Entramos na mata e comecei acelerar, me empolguei e
quando avistei a placa do 16k pisei numa raiz exposta e senti algo no pé
direito, nossa!
Como me incomodava, pensei que havia fraturado o dedo médio do
pé. Tive que reduzir, trotei, depois andei. Lá na frente fui surpreendido com a
ferroada na perna esquerda por um zangão ou abelha, apesar de ter levado
comprimidos antialérgico não foi necessário porque a dosagem de endorfina que
meu corpo tinha certamente agiria até como soro antiofídico, no caso de picada
por cobra. Você cria uma energia descomunal, sobretudo pelo contato direto com
a natureza, aliado a sua missão de concluir a prova que se propusera a correr.
Andar por 5K me deixava incomodado. Eu queria correr, mas o corpo não havia
sido preparado para tal. Faltou treinos de longões e preparação de
fortalecimento.
Quando passei pelo 18K logo em seguida vi
duas atletas mancando, uma com torção e outra pela fadiga do percurso que já
estava nos últimos trajetos. A galera da organização monitorava com staffs de
Bikes e atenção e cuidados que faziam inveja para quaisquer avós que estragam
netos com dengo exagerados.
Ao passar pelo último
ponto de hidratação, saí da mata fechada e já vi o sol a pino bater com força.
Passei por um trecho de asfalto e ali parecia o ultimo quilometro mais longo
que a volta ao mundo em 80 dias por Júlio Verne. Os pés doíam, o corpo queria
arriar mas as vozes motivacionais vindas dos veículos, me fortalecia.
Quando
entrei no Cindacta avistei a linha de chegada, os sentidos aguçavam as
sensações mas a audição captava aplausos, gritos, palavras que valiam como um
Elixir, o corpo arrepiou, lagrimas caíram e a emoção tomou conta de tudo.
Enfim, cruzei duas linhas. A de chegada daquela prova, mas também a linha de
largada para novos desafios para vida. Valeu Senta a Púa!!! Até o ano que
vem!!!!
Por: Oscar junior
Parabens pela conquista! e principalmente por nao desistir!!!!
ResponderExcluirObrigado Ana Paula! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
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