Mirian Marclay - imagem: Facebook |
A ETERNA BAILARINA
Na semana que comemorou o dia do
escritor, vou contar uma história. Em 1990, subindo a pé, a Avenida Isaac
Póvoas em Cuiabá-MT, num dia 25 de Julho, adentrei uma livraria. Uma das
primeiras vezes que caminhei sozinha por Cuiabá.
Eu tinha 13 anos naquela época, um
coração sempre melodioso, mas ferido, pela recente partida da minha mãe, no mês
de março daquele ano. A essência das coisas a alma retém, e havia algo que me
direcionava para leitura, eu que vinha escrevendo meu primeiro diário tinha
onze dias, já havia lido o poeta Castro Alves, aos oito anos, sentia a falta de
uma figura materna que compreendesse ou que expressasse o que eu sentia.
Em meio a tantos livros, eu
acredito nessas coisas de destino, quase mágicas, vi um livro de capa verde,
cuja autora era simplesmente -Cecília Meirelles- e a obra "Flor de
Poemas".
Comprei sem qualquer dúvida. Foi
meu primeiro livro de poesias que comprei e que passei a carregar comigo para
todos os lugares.
Lia Cecília nos recreios, em casa,
na fazenda, repassava alguns poemas com tamanha paixão que passei a cultivar um
jardim lúdico em minha alma. Naquele universo havia suavidade, dor, sentimentos
românticos que embora eu não compreendesse, pois nunca vivera um amor, forneciam
elementos para toda uma confecção futura de versos.
Essa poetisa tem como
característica um pensar direto, claro, sem névoas. Sem muitas interferências,
e que foi fundamental em sua simplicidade para que eu compreendesse que o que
eu sentia não era unicamente meu, mas próprio de almas que vivem à flor da pele.
Meu mundo e meu momento passavam a
fazer sentido, entre aquelas flores e bailarinas em poemas eu dançava, meu
mundo era de uma leveza singular, única, reconfortante e inspiradora.
Instintivamente comecei a escrever
meus primeiros poemas de menina, muito singelos, ainda no mesmo ano, e uma
tentativa de mini conto que encontrei esses dias todos inéditos.
Tudo feito no ano de 1990. Um ano
em que ocorreram tantas coisas para o Brasil e para o mundo, mas que até aquele
mês de Julho e, posteriormente, até Outubro quando se encerrou meu primeiro
ciclo poético, tive um jardim encantado na alma, nutrido por aquela poetisa que
me acolheu.
Foram rasgos de alma tão
inocentes, tão intrínsecos e necessários, que permaneceram guardados comigo por
mais de 22 anos em cada uma de minhas mudanças, nas minhas gavetas, nas caixas
coloridas da alma. Aqueles poemas eram mais do que uma vontade de fazer arte, o
conceito de arte sequer havia sido refletido por mim. Minha escrita era apenas
a necessidade de transformar lágrimas em poesia, de transformar dor em
fantasia.
Ser escritor é diferente de ser
poeta. O escritor, normalmente descreve, mergulha num universo que nem sempre
sente, compreende, aprende, recebe consultoria, mas não vivencia
verdadeiramente no ser.
Poeta também é um escritor. Sempre
será. Mas ele é o indivíduo que sente em letras, por meio delas satiriza a si,
ao mundo, faz as conjecturas do amor, traz fantasia ao trivial, interpreta a
própria alma, a alma alheia e a dos objetos inanimados.
Minha alma sempre foi poeta. Parou
por algum tempo, esporadicamente escreveu, nas inúmeras cartas, aquelas de
papel, que sempre adorou narrar o cotidiano, em que mesclava realidade e
devaneio, nas músicas que fazia, nas discussões sobre literatura.
Alma de escritor é um conjunto de
características muito próprias, e de poeta muito especiais.
Sou fruto dessa doce poesia. Que
acredita no amor como o sentir sublime. Que tem fé nas pessoas até que se prove
o contrário. Sim, uma poeta romântica e por qual razão não seria?
Afinal tudo que precisamos é de
amor. A frase não é minha...é daqueles quatro poetas de Liverpool "ALL YOU
NEED IS LOVE", que por sinal, é o toque do meu celular.
Em 1990 Cecília Meirelles traduziu
minha alma, e ainda traduz. Ela, em sua sensibilidade, possui os códigos que me
acessam, a delicadeza, o afago em letras.
A ela minha singela partilha neste
dia do escritor, eu que sou aprendiz de letras, que caminho pelos versos, pela
prosa, entre o universo de um mundo real e o meu primeiro jardim, onde planto
cada uma das pessoas que são valiosas, quer estejam no mundo material, no mundo
dos sonhos, ou aquelas que são estrelas como Cecília, mas que seguem nos
iluminando em suas baladas de amor.
Muito obrigada Rosylene! Bjs no teu carinhoso coração!
ResponderExcluirMirian