domingo, 29 de julho de 2012

A ETERNA BAILARINA por Mirian Marclay Volpato Lemos Melo


Mirian Marclay - imagem: Facebook

A ETERNA BAILARINA 
Na semana que comemorou o dia do escritor, vou contar uma história. Em 1990, subindo a pé, a Avenida Isaac Póvoas em Cuiabá-MT, num dia 25 de Julho, adentrei uma livraria. Uma das primeiras vezes que caminhei sozinha por Cuiabá.
Eu tinha 13 anos naquela época, um coração sempre melodioso, mas ferido, pela recente partida da minha mãe, no mês de março daquele ano. A essência das coisas a alma retém, e havia algo que me direcionava para leitura, eu que vinha escrevendo meu primeiro diário tinha onze dias, já havia lido o poeta Castro Alves, aos oito anos, sentia a falta de uma figura materna que compreendesse ou que expressasse o que eu sentia.
Em meio a tantos livros, eu acredito nessas coisas de destino, quase mágicas, vi um livro de capa verde, cuja autora era simplesmente -Cecília Meirelles- e a obra "Flor de Poemas". 
Comprei sem qualquer dúvida. Foi meu primeiro livro de poesias que comprei e que passei a carregar comigo para todos os lugares.
Lia Cecília nos recreios, em casa, na fazenda, repassava alguns poemas com tamanha paixão que passei a cultivar um jardim lúdico em minha alma. Naquele universo havia suavidade, dor, sentimentos românticos que embora eu não compreendesse, pois nunca vivera um amor, forneciam elementos para toda uma confecção futura de versos.
Essa poetisa tem como característica um pensar direto, claro, sem névoas. Sem muitas interferências, e que foi fundamental em sua simplicidade para que eu compreendesse que o que eu sentia não era unicamente meu, mas próprio de almas que vivem à flor da pele.
Meu mundo e meu momento passavam a fazer sentido, entre aquelas flores e bailarinas em poemas eu dançava, meu mundo era de uma leveza singular, única, reconfortante e inspiradora.
Instintivamente comecei a escrever meus primeiros poemas de menina, muito singelos, ainda no mesmo ano, e uma tentativa de mini conto que encontrei esses dias todos inéditos.
Tudo feito no ano de 1990. Um ano em que ocorreram tantas coisas para o Brasil e para o mundo, mas que até aquele mês de Julho e, posteriormente, até Outubro quando se encerrou meu primeiro ciclo poético, tive um jardim encantado na alma, nutrido por aquela poetisa que me acolheu.
Foram rasgos de alma tão inocentes, tão intrínsecos e necessários, que permaneceram guardados comigo por mais de 22 anos em cada uma de minhas mudanças, nas minhas gavetas, nas caixas coloridas da alma. Aqueles poemas eram mais do que uma vontade de fazer arte, o conceito de arte sequer havia sido refletido por mim. Minha escrita era apenas a necessidade de transformar lágrimas em poesia, de transformar dor em fantasia.
Ser escritor é diferente de ser poeta. O escritor, normalmente descreve, mergulha num universo que nem sempre sente, compreende, aprende, recebe consultoria, mas não vivencia verdadeiramente no ser.
Poeta também é um escritor. Sempre será. Mas ele é o indivíduo que sente em letras, por meio delas satiriza a si, ao mundo, faz as conjecturas do amor, traz fantasia ao trivial, interpreta a própria alma, a alma alheia e a dos objetos inanimados. 
Minha alma sempre foi poeta. Parou por algum tempo, esporadicamente escreveu, nas inúmeras cartas, aquelas de papel, que sempre adorou narrar o cotidiano, em que mesclava realidade e devaneio, nas músicas que fazia, nas discussões sobre literatura.
Alma de escritor é um conjunto de características muito próprias, e de poeta muito especiais.
Sou fruto dessa doce poesia. Que acredita no amor como o sentir sublime. Que tem fé nas pessoas até que se prove o contrário. Sim, uma poeta romântica e por qual razão não seria?
Afinal tudo que precisamos é de amor. A frase não é minha...é daqueles quatro poetas de Liverpool "ALL YOU NEED IS LOVE", que por sinal, é o toque do meu celular.
Em 1990 Cecília Meirelles traduziu minha alma, e ainda traduz. Ela, em sua sensibilidade, possui os códigos que me acessam, a delicadeza, o afago em letras.
A ela minha singela partilha neste dia do escritor, eu que sou aprendiz de letras, que caminho pelos versos, pela prosa, entre o universo de um mundo real e o meu primeiro jardim, onde planto cada uma das pessoas que são valiosas, quer estejam no mundo material, no mundo dos sonhos, ou aquelas que são estrelas como Cecília, mas que seguem nos iluminando em suas baladas de amor. 
 Por: Mirian Marclay Volpato Lemos Melo

Conheça também o blog Lirismo à flor da pele por Mirian Marclay

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