BEM CASADOS!
A Cia. Falácia (RJ)
trouxe dois espetáculos ao Palco Giratório, Amor
Confesso, com contos de Artur de Azevedo, e A Nova Ordem das Coisas, inspirado no texto ‘A Igreja do Diabo’, de
Machado de Assis.Na quinta-feira (09/05), tradicional dia de Bulixo no SESC
Arsenal, assistimos ao Amor Confesso
dos atores Claudia Ventura e Alexandre Dantas. Uma hilariante comédia que
brincava com o casamento se utilizando de contos de Arthur Azevedo.
Coincidência boa este espetáculo ser apresentado bem no dia em que as famílias
cuiabanas lotam as varandas do SESC, pois a brincadeira era justamente: casar
ou não casar? Os atores, casados na vida real, utilizam suas experiências
pessoais para pensar, com a ajuda da plateia, se continuam juntos e realizam a
cerimônia do casamento depois da peça, ou se é melhor deixar pra lá esse
negócio de casamento, que só dá errado. Com a leveza peculiar à comédia
carioca, Claudia e Alexandre conversam com a plateia, brigam, discutem sua
relação e investigam seu casamento contando as histórias de Arthur Azevedo, uma
após a outra, carregadas de traições e desacertos. Para manter a montagem em
consonância com sua fonte, os atores mantém a linguagem
utilizada nos contos, de um português rebuscado e arcaico com expressões
típicas da época, e ainda brincam com vários sotaques em referência à população
carioca do período, que advinha de todo canto do Brasil e do mundo. De acordo com a história de vida do casal,
Arthur Azevedo é considerado ‘padrinho’ de casamento dos atores, pois foi em um
ensaio de uma peça dele que o casal iniciou o namoro. Nada mais justo,
portanto, que seja em uma peça do mesmo autor que devam iniciar o casamento!
Seria uma empreitada mais simples não fosse o teor dos contos do autor, que só
falam de traição e não tem final feliz. Com as risadas incentivadoras da
plateia, o casal supera os contos e reafirmam seu casamento, como já era de se
esperar. Novamente vemos o jogo de ‘leva e trás’ entre a ficção e a realidade,
bem típica do teatro contemporâneo, e no caso desta montagem, com uma camada a
mais: um modo de atuação que se relaciona com o formato defendido pelo autor dos
contos. Além de divertida, os atores utilizam uma interpretação inspirada no
teatro de revista, consolidado por Arthur Azevedo no final do século XIX e
início do XX; a fala rápida e naturalista, a triangulação com a plateia (falo
olhando para a plateia e depois olho para quem me ouviu, e vice e versa e versa
e vice), o tom cômico e alto e os temas fáceis e
marcações que reforçam o discurso. Este
gênero se utilizava da comédia de costumes como referência textual, dramaturgia
que Arthur Azevedo era mestre, e se concentrava na cultura urbana carioca, seus
costumes e seu cotidiano, desenvolvendo uma modalidade jornalística que servia
para colocar a cidade à par dos eventos sociais. O escritor sustentou sua
numerosa família vivendo da comédia e qualquer semelhança com o stand-up atual,
não é mera coincidência. Mas, vale dizer que o espetáculo que vimos não pertence
ao gênero stand-up, apesar de semelhante; a Cia. Falácia apresenta uma pesquisa
cênica a partir dos contos de Arthur Azevedo, que consolidou a comédia de
costumes, que por sua vez inspirou a comédia atual. O ótimo
jogo entre os atores e suas interações com a plateia são o ponto alto do
espetáculo. De maneira fluídica e rápida, os atores transformam as informações
dadas pelos espectadores em texto e neste jogo dão aula de improviso e comédia.
A química entre os atores é nítida e fica muito claro que este casamento deu
certo. Ao menos, no palco! A diretora
Inez Viana conseguiu criar um paralelo simples e eficiente entre o casal e os
personagens. É bem verdade que o número de contos poderia ser menor, mas talvez
o amor ao padrinho os proíba tal corte. Na
cenografia, duas cadeiras tão brilhantemente utilizadas pelos atores que tornou
desnecessária o fraque e o vestido de noiva que tomavam as laterais do palco. A
participação do músico Roberto Bahal mostrou que músico também sabe atuar, e
ator também sabe cantar. Um brinde ao riso e vida longa à Arthur Azevedo!
Juliana Capilé e
Tatiana Horevicht
CIA PESSOAL DE TEATRO
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