Há variados procedimentos que designam os
campos das percepções, das interpretações, sobretudo das representações visuais.
Estes seguimentos encontram-se
disponíveis ao verdadeiro pensar e fazer. Em cada artista, há determinado modo
condicionante ao exercício da disciplina visual. São auxiliares, ou ferramentas
para difundirem suas metáforas, suas linguagens.
Há os que
transitam no campo da erudição, do popular, do metafísico, do expressionismo,
do surrealismo, do primitivismo, enfim. Há espaços mais que suficientes a todos
os demais participantes.
Estes
acampamentos, estas representações mentais, estas narrativas, estes contextos,
estes conteúdos, variam de pessoa para pessoa. Entretanto, a Arte é quem
determina, ou coloca as suas próprias prerrogativas em cada um dos eleitos, dos
escolhidos, para desempenharem tal ofício!! Tal papel representativo! Tal
tarefa! É um dom inato!
Nilson
Pimenta enquadra-se nesta significação "naturalística". Sua
expressividade, sua arte, inspira-se e fundamenta-se no ato do
"percorrer".
Começa de
baixo para cima. Passa primeiro pela sola dos seus pés, ao tocar o chão. Sobe
até a cabeça pensante. É audaz ao caminhar numa região fértil. Seu caráter e
função plásticos, psíquicos, encontram-se mesclados, ou embrenhados em suas
próprias vivencias culturais, ou suas raízes rurais. O seu verdadeiro, primeiro
e último mapeamento das fluências, das idéias plásticas, é pois o chão
brasileiro.
Esta
prerrogativa tão e quanto natural, ao sentir do Nilson Pimenta, cresce e
floresce no plantio intelectualizante do gesto de compor seus quadros. Suas
roças! Suas lavouras. Ele carpe com as tintas e os pincéis o seu vasto lugarejo
do império do sentir, da expressão pura.
E, nesse percorrer "bi dimensional",
sobre a tela, sobre este terreno cromático, o qual é desempenhado em constantes
tons azulados, com total certeza compreendo que, ele desnecessita da
perspectiva linear. Incabível ao seu proceder artístico.
Ele ocupa
apenas e tão somente a faixa que compreende uma porção planetária. O segmento
celeste é mínimo. Trata-se de uma visão telúrica recortada em figurações
simples e claras! Não nos deixa nenhuma dúvida diante da sua objetividade. Com
seus pés grandes, olhos, e sua visão, traça, pinta e nos oferece o "Fruto
da Terra" da sua leitura sintética.
Obra Nilson Pimenta - Foto: Rosylene Pinto |
É o trator e o maquinista nessa operacionalidade
cotidiana do fazer Arte. O "fazendeiro", o produtor de si mesmo em
abundancia.
E, nessa natural deslocação, nesse percorrer campo
afora, esbarra-se no terreno sensual e erótico da coisa.
O cio da
terra, é pois o ardume da pimenta. Um certo calor levanta-se do lugar, e dá
asas ao seu imaginar! Animais copulam-se com impudência. Cenas de casamentos
coletivo ocorrem nos seus espaços. São excitantes constatações de luas-de-mel
sobre as celas dos animais perfilados em direção ao leste. Aos leitos, às
alcovas. Um jorrar de sêmens acontecerá, com certeza. Estes apuramentos,
argumentos claros, objetivos, sensuais, são partes dos inserimentos da
personalidade do artista. Atuam como elementos compositivos. Mostra-nos o
caráter do masculino.
Grandes
glúteos, mais parecidos com planetas, orbitam em vestimentas urbanas. Super
justas. Coladas ao corpo feminino.
Seus
diálogos visuais ocupam faixas pictográficas. São planos. Tem somente altura e
largura, pois são visões quânticas. Seus plantios, seus milharais, suas
vegetações, suas derrubadas, configuram-se em composições que, seriam em si
mesmo, um mero fundo naturalista. Um adorno sem mentira, entretanto sem jamais
perder a poesia.
São congruentes e verossímeis suas paisagens,
passagens, ou pastagens dos seus campos e rebanhos sensíveis. São pinturas
encantadoras.
Aglomerados de gente miúdas, transpiram ou
denunciam uma novidade em certas telas.
Em
particular no seu quadro: "Sem-Terra do Cristo", repletos de
"pontinhos" Vale a pena conferir a mostra, presente no Museu de Arte
e de Cultura Popular, na sala Aline Figueiredo Espíndola, em exposição no
campus da UFMT.
João
Sebastião Barros
Premio de
Viagem
Crítico e
Amante das Arte Visuais
Visite o meu
blog www.joaosebastiaocosta.blogspot.com
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